Desde aquela pancada num canto, num teto mais baixo, ou então cair de mau jeito e bater com a cabeça num objeto, ou mesmo no chão é, para dizer o mínimo, desagradável. Mas dependendo do local do impacto e/ou da intensidade desse impacto, pode ser preocupante, muito!
A seguir, você verá o que é esperado e quais são os sinais de alerta de que algo não vai bem no corpo depois de bater a cabeça:
Precisa ir para uma emergência? Não necessariamente. Saber as orientações ajuda a diminuir essas inseguranças e evita preocupações desnecessárias.
Por outro lado, deve-se considerar que se o acidentado ou quem estiver junto sentir-se inseguro mesmo que já saiba as orientações, é sempre melhor procurar atendimento para orientação profissional, mesmo que seja para ouvir que está tudo bem e não necessita exames.
O que é esperado depois de uma batida na cabeça? Mesmo em uma batida de cabeça leve, é normal que alguns sintomas apareçam imediatamente e que outros eventualmente persistam por mais tempo. Por exemplo:
- vertigem ou tontura;
- perda de consciência breve (se a pessoa “apaga” na hora da pancada, mas volta a si rapidamente);
- dor de cabeça persistente, mas que não cresce em intensidade (pode ser leve ou moderada, mas não fica mais forte com o tempo);
- vômitos: são bastante comuns em crianças. Se a pessoa vomitar uma vez só, isso não é preocupante;
- zumbido no ouvido;
- dificuldade de memória de curto prazo: a pessoa pode não lembrar do que aconteceu quando bateu a cabeça ou de algo que lhe foi dito logo após a batida. Também é possível que ela nunca se lembre da própria batida em si;
- alterações de humor: é normal que a pessoa se sinta mais agitada ou tenha um pouco de insônia, por exemplo, durante alguns dias. Isso não indica, necessariamente, que algo mais grave está acontecendo;
- sangramento nasal.
Outro fator que pode indicar que não foi uma pancada grave é a intensidade da batida – por exemplo, se decorreu de uma queda da própria altura (um tropeço, por exemplo, desde que a cabeça não tenha atingido um objeto mais duro: um muro, uma pedra, uma cadeira fixa).
Quais são os alertas de perigo depois de uma batida na cabeça? Por outro lado, alguns sintomas indicam que pode, sim, haver um problema mais grave:
- Perda de consciência por mais que alguns poucos minutos;
- Suspeita de crise epiléptica (de convulsão): se a pessoa se debateu ou perdeu urina, por exemplo;
- Vomitar várias vezes;
- Sinais de problemas neurológicos: se a pessoa está confusa, falando de forma confusa ou não consegue falar, mexer ou sentir uma parte do corpo;
- Se surgem novos sintomas ao longo do tempo: se a pessoa está bem e, ao longo do dia, ela começa a sentir alguma coisa nova – isso pode ser um sinal de alerta para procurar atendimento;
- No caso de bebês, que não conseguem vocalizar os sintomas, é preciso manter a atenção para irritabilidade além do normal ou falta de apetite;
- Sangramento pelo ouvido ou saída de líquido claro, seja pelo nariz ou pelo ouvido, porque pode haver uma fratura na base do crânio
Posso deixar um acidentado dormir depois de bater a cabeça? Sim, sem um problema maior, porém existe uma necessidade de avaliar a pessoa por um certo período após a batida. Isso vale, principalmente, para crianças e bebês, que podem não ser capazes de expressar os sintomas pós-pancada.
Não quer dizer que não se possa deixar dormir. Pode dormir, pois é até bem comum ter sono depois de uma pancada, mas precisa eventualmente fazer uma reavaliação.
Por exemplo: se a pessoa (ou a criança ou o bebê) bateu a cabeça e está bem, mas foi dormir, “daqui a alguns minutos, você pode tentar dar uma ‘acordadinha’. Pode voltar a dormir, não tem problema. Vai ver de novo daqui a uma hora como ele tá. Se está bem daqui a uma hora, duas horas, pode ir aumentando o intervalo entre as avaliações, até você sentir confiança que nenhum problema maior está acontecendo.
Isso serve para verificar se o sono é normal ou se a pessoa está com perda de consciência, por exemplo.
Lembre-se: A diferença entre alguém dormindo e alguém em coma muitas vezes é difícil perceber, a não ser que você tente acordar a pessoa.
Existem partes da cabeça que trazem maior risco se receberem pancadas? Mais ou menos.
Isso porque o risco maior de fraturas no crânio é no osso temporal – aquele que fica logo à frente da orelha (veja imagem no início desta matéria), porque é a área mais fina.
Só que há um detalhe a se entender: não necessariamente as lesões nessa parte da cabeça ou por pancadas serão obrigatoriamente as mais graves.
As lesões traumáticas mais graves não estão relacionadas a fraturas. Estão relacionadas ao mecanismo de desaceleração do crânio. Às vezes a pessoa nem bateu propriamente a cabeça, mas teve algum tipo de solavanco, e as lesões mais graves costumam vir daí.
Isso é o que acontece, por exemplo, quando você está num carro que bate com força. Mesmo que ninguém tenha batida com a cabeça, o cérebro “chacoalha” dentro da caixa craniana. Esse choque pode causar dois tipos de lesões muito graves: as lesões axonais difusas e o hematoma subdural agudo. Veja detalhes abaixo:
- Lesões axonais difusas
São lesões microscópicas nos axônios – uma parte dos neurônios, as células cerebrais. Quando ocorrem, os axônios ao longo do cérebro são danificados. Podem ocorrer em bebês quando eles são sacudidos (“síndrome do bebê sacudido”), por exemplo.
A lesão axonal difusa pode não ser vista numa tomografia e tem potencial de ser gravíssima. Isso porque os neurônios podem morrer, causando inchaço no cérebro e aumentando a pressão dele no crânio (pressão intracraniana).
- Hematoma subdural agudo
É um tipo de hematoma – acúmulo de sangue – que surge entre a camada média e a camada externa do tecido que reveste o cérebro (meninge).
Essa lesão não costuma aparecer junto com uma fratura – costuma estar relacionada com a desaceleração ou com o impacto do próprio cérebro dentro da caixa craniana pela desaceleração.
No caso de uma lesão mais grave, o paciente vai apresentar alterações neurológicas que indicam a necessidade de uma tomografia.
Muitas vezes a gente não sabe ainda o que vai encontrar [na tomografia], mas esses sinais neurológicos que indicam a tomografia são mais importantes até do que a própria tomografia.
Existem pessoas que correm mais risco ao bater a cabeça? Sim. Os idosos, por exemplo, ou pessoas que sofrem de doenças neurológicas como Mal de Parkinson – isso porque os reflexos de proteger a cabeça vão ficando mais lentos ou deixam de existir (no caso do Parkinson) e portanto ela própria não consegue se auto-proteger quando ela sofre uma queda.
A ação de proteção de queda é reflexo: geralmente as pessoas que estão em boas condições físicas vão ter mecanismos de proteção: reflexos protetores, flexão dos braços. O problema maior é identificar pessoas que tenham dificuldade com esses reflexos.
Veja algumas dicas para evitar as pancadas na cabeça de forma geral:
- No caso de idosos ou de pacientes com Parkinson, o ideal é promover um ambiente seguro, para prevenir as quedas: evitar tapetes, não usar chinelos que saiam facilmente do pé, evitar riscos como escadas e iluminar bem os locais (no caso de o idoso acordar à noite para ir ao banheiro, por exemplo).
- Dentro do carro, evite sentar no assento em que não há apoio para a cabeça (normalmente, o do meio no banco de trás). E ajuste a altura do apoio, para que fique alinhada com a parte posterior da cabeça, não com o pescoço.
- Já para as crianças e bebês, é importante remover obstáculos que possam levar a acidentes e, no caso de bebês a partir dos 3 meses – que já conseguem rolar –, não se afastar da criança em locais onde ela possa cair.
- Também é importante não sacudir o bebê, para evitar as lesões que ocorrem quando o cérebro bate com força no crânio. Essas lesões costumam acontecer quando o bebê está chorando muito e quem cuida da criança a sacode com força, por frustração; não costuma acontecer por brincadeiras leves de balançar a criança.
- Para pancadas na região do pescoço (veja próxima pergunta), é importante evitar mergulhos em águas rasas ou onde puder haver pedras.
Tive uma batida e estou com dor na região do pescoço. O que fazer? Se bateu a cabeça e relata dor no pescoço – depois de um mergulho em água rasa ou de um acidente, por exemplo – é importante não mexer a pessoa e procurar ajuda médica urgente.
Mesmo que essa pessoa esteja mexendo todos os seus membros, a dor no pescoço é um sinal de alerta. O recomendado é que a pessoa fique onde está, e tente não se movimentar.
O que pode acontecer é a pessoa ter sofrido uma lesão instável. As lesões instáveis da coluna podem fazer com que a coluna se movimente. Nesses casos o melhor é tentar não se movimentar até que seja atendido pelo resgate, que nesses casos deve colocar um colar cervical até que se descarte lesões.
Recomendação: Em todo caso, vale avaliação de um especialista para verificar se houve pós trauma.