O aumento da inflação, que voltou a estar no centro das discussões do mercado financeiro, também acendeu um sinal de alerta entre os pequenos investidores brasileiros, que, diante de retornos cada vez menores das aplicações mais conservadoras, precisam agora se preocupar também em evitar que a alta dos preços corroa os rendimentos em um cenário já desafiador para a alocação.
E as preocupações têm sido cada vez mais reforçadas. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou inflação de 0,83% em maio de 2021 na comparação com abril, o maior resultado para o período desde 1996. No ano, o IPCA acumula alta de 3,22% e, em 12 meses, já passa de 8%.
No relatório Focus, do Banco Central, as estimativas para o indicador têm sido sucessivamente revisadas para cima. A projeção mais recente do mercado aponta para inflação de pouco mais de 5,4%, neste ano, e de 3,7%, para o próximo.
Neste contexto, ter ao menos uma parte da carteira reservada a ativos que ofereçam retornos reais, isto é, acima da inflação, ganha ainda mais relevância na vida do investidor.
Essas alternativas podem ser encontradas tanto em aplicações de renda fixa, como títulos públicos, fundos de investimento e debêntures, quanto de renda variável, via fundos imobiliários.
Confira abaixo cinco aplicações financeiras recomendadas por especialistas para proteger o capital da alta da inflação e conheça como remuneram, os principais riscos e os custos envolvidos.
1) Títulos públicos
Uma das aplicações mais acessíveis para proteger o poder de compra do investidor ao longo do tempo recai sobre títulos públicos do tipo Tesouro IPCA+, com ou sem pagamento de bônus semestrais.
Esse é um papel que combina uma parte de retorno prefixado, definido no momento da compra do papel, e o restante indexado à inflação, medida pelo IPCA. No caso do pagamento de cupom, o investidor recebe o retorno antecipadamente, duas vezes ao ano.
Atualmente, as taxas de juros reais (ou seja, descontada a inflação) pagas por esses papéis superam os 4%, no caso daqueles com vencimentos mais longos, em geral a partir de 15 anos.
Mas o investidor precisa estar atento ao vencimento do papel, uma vez que, se vender antes do prazo, as taxas podem sofrer alterações – para cima ou para baixo.
A recomendação é que o investidor case o prazo do investimento com seus objetivos, para garantir a taxa contratada no momento da aplicação. “É preciso tomar cuidado, porque a volatilidade do Tesouro IPCA+ é muito alta.
Por conta do estresse do mercado em meio à pandemia que vivemos há mais de 1 ano, investidores têm pedido prêmios mais altos para emprestar recursos ao governo. Desta forma, caso decidisse fazer o resgate antecipado, o investidor poderia ter amargado perdas. Em maio, por exemplo, as baixas chegaram a quase 7% no Tesouro IPCA+2045.
Isso porque, à medida que piora a avaliação do mercado sobre a evolução das contas públicas, entre outros fatores, como o aumento da taxa Selic, os prêmios que o governo precisa pagar para se financiar aumentam, e provocam uma queda nos preços dos títulos que estão nas mãos dos investidores, especialmente nos de mais longo prazo. Quanto maior a taxa de juros, menor o valor do título. E vice-versa.
Com relação aos custos, a B3 cobra taxa de custódia de 0,25% ao ano sobre o valor total dos títulos. Atualmente, a grande maioria das corretoras e instituições financeiras trabalha com taxa zero de administração.
2) Fundos de inflação
Enquanto nos títulos públicos o investidor escolhe sozinho quais ativos vão compor seu portfólio, nos fundos de inflação, é o gestor do fundo que determina quais papéis e vencimentos farão parte da seleção.
Nesses fundos, a carteira é composta por uma cesta de títulos públicos indexados ao IPCA, que tem como objetivo superar um índice, normalmente o “IMA-B” ou o “IMA-B 5”, com prazo de até cinco anos, ou “IMA-B 5+”, com vencimentos dos papéis iguais ou acima de cinco anos.
“Ao comprar um título diretamente, você sabe qual taxa está comprando e, se levar até o vencimento, o retorno que vai receber. Se você compra um fundo, não sabe a taxa, mas pulveriza a carteira, o que em geral significa exatamente estar mais diversificado – portanto menos sujeitos a perdas massivas.
Nos fundos, contudo, é importante lembrar que há cobrança das chamadas “come-cotas”, taxa de administração e eventual taxa de performance.
Os fundos de inflação são uma boa opção para o pequeno investidor que pode precisar resgatar o montante investido antes do prazo estipulado pelo Tesouro.
São opções interessantes para compor e diversificar o portfólio do investidor, mas deve-se reforçar que são investimentos de longo prazo e não devem configurar reserva de emergência. “O ideal é escolher aqueles com prazos não tão curtos, porque costumam sofrer menos em momentos de crise”, diz.
Esses fundos são uma boa opção para o investidor que está dando os primeiros passos no mercado financeiro e ainda não consegue – ou deseja – fazer as escolhas sozinho.
3) ETFs de renda fixa
Ganhando cada vez mais espaço no mercado, os ETFs de renda fixa (“Exchange Traded Funds”)replicam o desempenho de índices que acompanham títulos públicos e privados prefixados ou atrelados à inflação.
Ao todo, há hoje sete produtos negociados na B3, sendo cinco deles atrelados ao IPCA. É o caso do “B5P211“, lançado no ano passado, que acompanha a evolução da carteira de papéis com prazos de até cinco anos. A taxa de administração é de 0,20% ao ano.
Há ainda dois ETFs que acompanham a evolução da carteira de títulos indexados à inflação com prazo igual ou superior a cinco anos (“IB5M11” e “B5MB11”), além de outros dois que replicam o IMA-B geral (“IMAB11” e “IMBB11”) – formado por todos os títulos que compõem a dívida pública. As taxas de administração variam de 0,20% a 0,25% a.a.
Alguns investidores dizem gostar da classe por ser uma forma rápida e acessível de investir em uma cesta de ativos, e com vantagem tributária em relação aos fundos de investimento tradicionais. Isso porque a alíquota de Imposto de Renda sobre os rendimentos é sempre de 15%, independentemente do prazo da aplicação. Mas não esqueça para a sua menor liquidez dos ativos.
4) Debêntures
Nos produtos de crédito privado, as debêntures com retorno atrelado ao IPCA também são interessantes para compor seu portfólio e proteger o capital do aumento da inflação.
Diferentemente dos títulos públicos, em que os papéis financiam o governo federal, na compra de uma debênture, o investidor está emprestando dinheiro para uma empresa.
Não são todas as debêntures, contudo, que são atreladas ao IPCA. Também estão disponíveis no mercado produtos com retorno prefixado, com taxa definida no momento da aplicação, e pós-fixados, atrelados à Selic.
Pelo fato de o investidor estar exposto a uma empresa, ele precisa se atentar ao risco de crédito desses papéis. É preciso entender as garantias, o rating da empresa e se o prêmio oferecido é condizente com o risco da companhia. Lembrando que quanto maior o rating, menor o risco.
Por ser necessário investigar mais antes de comprar uma debênture, sugere-se que o investimento seja feito nesse caso por aqueles com um perfil de risco a partir do moderado. Vale lembrar que debêntures não contam com proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Se o investidor não tiver grande conhecimento sobre o mercado e tempo para estudar as empresas, a recomendação é investir via fundos de debêntures, que contam com uma gestão profissional para fazer as escolhas. Além disso, há maior diversificação do portfólio e portanto uma maior pulverização dos riscos. Com isso se minimizam as possíveis perdas massivas.
Embora existam opções com vencimentos mais curtos, o ideal é que o investidor tenha um horizonte de investimento de no mínimo três a cinco anos. Há debêntures com prazos acima de dez anos.
5) Fundos imobiliários
Um dos investimentos que têm ganho cada vez mais espaço na carteira dos investidores brasileiros são os fundos imobiliários, em meio a um cenário de juros na mínima histórica.
E diante da alta da inflação, FIIs voltados para renda e que possuem, no portfólio, ativos com contratos de aluguel atrelados ao IPCA e ao IGP-M podem se beneficiar desse cenário.
No ano, o IGP-M, utilizado principalmente no cálculo do reajuste anual dos contratos de aluguel, acumula valorização de praticamente 14,4% até maio. Em 12 meses, a alta é passa dos 37%.
Com aplicações mínimas abaixo de R$ 100, os fundos imobiliários são acessíveis, mas, por serem de renda variável e estarem sujeitos a oscilações bruscas, são recomendados para investidores de perfil moderado. Se este não for o teu caso, não entre.
Todos concordam que é importante que o investidor destrinche a carteira, de forma a entender no que está investindo e escolher o melhor mercado para estar posicionado.
Entre os segmentos preferidos dos especialistas estão os fundos de recebíveis imobiliários e os residenciais, que vêm ganhando atenção diante dos juros baixos aumentando a tomada de crédito habitacional.
É preciso ficar de olho, contudo, na alta da Selic, que pode tirar parte da atratividade dos produtos. Nos fundos imobiliários, o investidor hoje também precisa mensurar o impacto da pandemia sobre os imóveis.
Nos FIIs, os imóveis podem ter alta na taxa de vacância, com impacto sobre as cotas. Tem que entender se o shopping recuperou as vendas, se as lajes estão devolvendo escritórios, então é uma questão adicional que precisa ser analisada antes de investir.
Isso porque, por mais que a inflação esteja mais pressionada no ano, o fundo pode não conseguir repassar o aumento dos preços para os inquilinos por conta da crise.
Uma boa opção são os fundos imobiliários de papel, que possuem na carteira papéis de renda fixa como Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Letras de Crédito Imobiliário (LCIs).